segunda-feira, janeiro 29, 2018

Adeus ao meu Herói Edmundo Pedro



Adeus ao meu Herói Edmundo Pedro

Todos nós, à medida que vamos crescendo, temos os nossos heróis. Talvez por ter crescido num ambiente diferente das outras crianças, num ambiente mais “adulto” e “politizado” tive heróis diferentes.
Pois enquanto os meus amigos ou colegas de escola liam livros de banda desenhada, eu lia outro tipo de livro que iam desde O Tarrafal ao Capital de Karl Marx.
Entre os meus heróis, estava o Edmundo Pedro, o lutador da Liberdade e da Democracia, Foi preso pela PIDE com apenas 15 anos e aos 16 anos foi levado para inaugurar o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, em 1936. Ali passou todos os horrores possíveis e lá sobreviveu durante 10 anos, tendo -lhe morrido nos braços dezenas de amigos e o seu próprio pai.
Nunca baixou os braços e nunca deixou de lutar por Portugal, pela igualdade, pela Liberdade e pela Democracia até ao 25 de Abril. Voltou a ser preso, torturado e não só…
Depois do 25 de Abril destacou-se como militante, dirigente e deputado do Partido Socialista, tendo sido elemento fundamental na articulação civil e militar, na defesa da Liberdade contra a deriva totalitária no período da revolução.
Chegou a ser presidente da RTP e a 9 de junho de 1994, foi feito Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, tendo sido elevado a Grã-Cruz da mesma ordem a 9 de junho de 2005.
Maçom do Grande Oriente Lusitano, foi um dos fundadores da Loja 25 de Abril
Tive a sorte de conhecer o meu herói de infância e tornar-me seu amigo. Em 1999 os meus País foram com ele ao Tarrafal, viagem que infelizmente não fiz, mas nasceu entre nós uma forte amizade, passei horas a ouvir as suas histórias, ofereceu-me todos os seus livros que guardo num local de destaque na minha biblioteca. Tive a oportunidade de passar tardes em tertúlias, na sua casa de Alvalade e de ir a festas na sua casa de Sesimbra.
Fez questão de estar presente em muitas exposições minhas e do meu pai. Organizei debates e conferência e ele esteve sempre presente, e quando publiquei o meu livro “As portas de Abril” que lhe dediquei, tive a honra, de contar com a sua presença na mesa de honra para apresentar o mesmo.
Tivemos imensas conversas sobre Maçonaria, tendo sido inclusivo o primeiro maçom que me convidou para entrar para a Maçonaria.
Edmundo Pedro era um homem “BOM”, sempre preocupado com os outros, as vezes mais preocupado com os outros do que consigo mesmo. Não tenho palavras para descrever o quanto me deixa devastado o seu desaparecimento físico, ele era um amigo, um irmão, um mentor e o avô que gostava de ter tido, aliás como tive a oportunidade de lhe dizer mais que uma vez.

Meu querido Edmundo até um dia, no Oriente Eterno.